1 de jun. de 2013

Noções Práticas para o Relacionamento com Pessoas Cegas

Estas noções foram atualizadas por professores do Instituto Benjamim 
Constant, a partir de daquelas formuladas por Robert Atkinson, Diretor do Braille Institute of 
America — California, dedicado à reabilitação de deficientes visuais. 
1. Não trate as pessoas cegas como seres diferentes somente porque não podem ver. Saiba que elas estão sempre interessadas no que você gosta de ler, ouvir e falar. 
2. Não generalize aspectos positivos ou negativos de uma pessoa cega que você conheça, estendendo-os a outros cegos. Não se esqueça que a natureza dotou a todos os seres de diferenças individuais mais ou menos acentuadas. 
3. Procure não limitar a pessoa cega mais do que a própria cegueira faz, impedindo-a de realizar o que ela sabe, pode e deve fazer sozinha. 
4. Não se dirija a uma pessoa cega chamando-a de “cega” ou “ceguinho”; é falta elementar de 
educação, podendo mesmo constituir ofensa chamar alguém pela palavra designativa de sua deficiência física, moral ou intelectual. 
5. Não fale com a pessoa cega como se ela fosse surda; o fato de não enxergar não significa que não ouça bem. 
6. Não se refira à cegueira como desgraça. Ela pode ser assim encarada logo após a perda da visão, mas a orientação adequada consegue reduzi-la a defeito físico suportável, como acontece em muitos casos. 
7. Não diga que tem pena da pessoa cega, nem lhe mostre exagerada solidariedade. Ela não necessita de piedade e sim de compreensão. 
8. Não exclame “maravilhoso”, “extraordinário”, ao ver o cego consultar o relógio, discar o telefone ou assinar o nome. 
9. Não fale de “sexto sentido”, nem de “compensação da natureza” — isso perpetua conceitos 
errôneos. O que há na pessoa cega é o simples desenvolvimento de recursos mentais 
latentes em todos os seres humanos. 
10. Não modifique a linguagem para evitar a palavra “ver”, substituindo-a por “ouvir”. 
Conversando sobre a cegueira com quem não vê, use a palavra “cego” sem rodeios. 
11. Não deixe de oferecer auxílio à pessoa cega que esteja querendo atravessar a rua ou 
tomar condução, ainda que seu oferecimento seja recusado ou mesmo mal recebido por alguma delas; esteja certo que a maioria lhe agradecerá o gesto. 
12. Não suponha que a pessoa cega possa localizar a porta onde deseja entrar ou o lugar onde queira ir, contando os passos. 
13. Não tenha constrangimento em receber ajuda, admitir colaboração ou aceitar gentilezas 
por parte de alguma pessoa cega. Tenha sempre em mente que a solidariedade humana deve ser praticada por todos e ninguém é tão incapaz que não tenha algo para dar. 
14. Não se dirija a pessoa cega através de seu guia ou companheiro, admitindo assim que ela não tenha condição de compreendê-lo. 
15. Não guie a pessoa cega empurrando-a ou puxando-a pelo braço; basta deixá-la segurar 
seu braço, que o movimento de seu corpo lhe dará a orientação de que ela precisa. Nas passagens estreitas, tome a frente e deixe-a seguí-lo, com a mão em seu ombro. 
16. Quando passear com pessoa cega que já estiver acompanhada, não a pegue pelo outro braço, nem lhe fique dando avisos. Deixe-a ser orientada somente pela pessoa que a estiver guiando. 
17. Não carregue o cego ao ajudá-lo a atravessar a rua, tomar condução subir ou descer escadas. Para guiá-lo basta pôr-lhe a mão no balaústre ou no corrimão. 
18. Não pegue a pessoa cega pelos braços rodando com ela para pô-la na posição de sentar-se, empurrando-a depois para a cadeira. Basta pôr-lhe a mão no espaldar ou no braço da cadeira, que isto lhe indicará a posição. 
19. Não guie a pessoa cega em diagonal ao atravessar um cruzamento. Isso pode fazê-la perder a orientação. 
20. Não diga apenas “à direita” ou “à esquerda”, ao procurar orientar uma pessoa cega à distância. Muitos se enganam ao tomarem a referência sua própria posição e não a do cego que caminha em sentido contrário ao seu. 
21. Não deixe portas meio abertas onde haja pessoas cegas. Conserve-as sempre fechadas ou bem encostadas à parede, quando abertas. A porta meio aberta é um obstáculo muito perigoso para o cego. 
22. Não deixe nada no caminho por onde uma pessoa cega costume passar. Há cadeiras na Acessibilidade.
23. Não bata a porta do automóvel onde esteja uma pessoa cega sem ter a certeza de que não irá lhe prender os dedos. Estes são a sua maior riqueza. 
24. Não deixe de falar ao entrar no recinto onde haja uma pessoa cega; isso anuncia a sua presença e auxilia a identificá-la. 
25. Não saia de repente quando estiver conversando com uma pessoa cega, principalmente se houver barulho que a impeça de perceber seu afastamento. Ela pode dirigir-lhe a 
palavra e ver-se na desagradável situação de falar sozinha, chamando a atenção dos 
outros para si. 
26. Não deixe de apertar a mão da pessoa cega ao encontrá-la ou despedir-se dela. O aperto de mão cordial substitui, para ela, o sorriso amável. 
27. Não desperdice seu tempo nem o da pessoa cega perguntando-lhe: “Sabe quem sou eu?”, “Veja se adivinha que está aqui...”, “Não vá dizer que não me conhece...”. Só o faça se tiver realmente muita intimidade com ela. Se houver muito barulho em volta, o melhor é dizer: “É o fulano, como vai?” 
28. Não deixe de apresentar seu visitante cego a todas as pessoas presentes; assim 
procedendo você facilitará a integração dele ao grupo. 
29. Mostre ao seu hóspede cego as principais dependências da sua casa, a fim de que ele aprenda detalhes significativos e a posição relativa dos cômodos, podendo assim 
locomover-se sozinho. 
30. Não pense que seu hóspede cego é criatura diferente, precisando de alguém que o vista, ponha-lhe o guardanapo ou lhe dê de comer. 
31. Não se constranja em advertir a pessoa cega quanto a qualquer incorreção no seu 
vestuário, para que ela não se veja na situação desagradável de suscitar a piedade alheia. 
32. Não estranhe quando a pessoa cega perguntar pelo interruptor de luz, em casa ou no escritório. Isto lhe permite Isto lhe permite acender a luz para outros e, não raro, ela própria prefere trabalhar com luz. 
33. Não fique preocupado em orientar a colher ou o garfo da pessoa cega para apanhar a comida no prato. Ela pode falhar algumas vezes, mas acabará por comer tudo. Ser-lhe-á penoso ter você a lhe dizer constantemente onde está o alimento. 
34. Não procure saber se o café da pessoa cega está bom de açúcar interrogando o seu acompanhante. Ninguém melhor que o próprio cego terá condições de lhe dar a resposta. 
35. Não encha a xícara da pessoa cega até a borda. Ela tem dificuldade em mantê-la 
equilibrada, sem entornar. 
36. O pedestre cego é muito mais observador que os outros. Ele tem meios e modos de saber onde está e para onde vai, sem precisar estar contando os passos. Antes de sair de casa, ele faz o que todas as pessoas fazem: procura saber bem o caminho a seguir para chegar ao seu destino. Na primeira caminhada poderá errar um pouco, mas depois raramente se enganará. Saliências, depressões, quaisquer ruídos e odores característicos, tudo ele observa para sua melhor orientação.