A paulistana Maria Eugênia é dona de casa, tem
64 anos e um único neto, o Luís Felipe, que neste mês completa doze anos de
idade. O Luís Felipe é cego. "Antes do Felipe, eu nem imaginava como era ter uma
deficiência e a única coisa que sentia era pena dessas pessoas", conta em um
longo email. "Via campanhas de arrecadação de dinheiro para instituições
assistenciais na televisão, todo mundo sorrindo, eu ficava feliz por serem
acolhidas e cuidadas pela sociedade, já que achava que não podiam mesmo estudar,
trabalhar ou casar - aliás, achava que nem eram em número tão grande porque a
gente quase não vê cadeirantes e cegos pelas ruas".
Hoje, a opinião da Maria Eugênia é outra: "O
preconceito contra quem tem deficiência é enorme, a desinformação sobre o
assunto é geral e as medidas realmente inclusivas quase não existem,
principalmente para os cegos. Assistencialismo é caridade e caridade não é
inclusão! E no governo, o discurso é um e a prática é bem outra. Muitas ações
para a imprensa ver, mas que nem de longe atendem às reais necessidades de quem
tem deficiência. Somos uma família de leitores, lembro da farra que eram as
reuniões com colegas de escola para fazer trabalhos, aquele monte de livros
indicados pelos professores espalhados sobre a mesa para a gente discutir e
consultar. Fico triste porque o Felipe não tem acesso a eles como deveria, as
editoras não vendem os livros nos formatos digitais acessíveis, as bibliotecas
não são acessíveis e livro é uma das coisas de que ele mais gosta na vida! Hoje,
já quase nem entro mais em livrarias, de tanto desgosto. Os livros não são
acessíveis, as cidades não são acessíveis, a televisão também não! Nada que é
para todo mundo é para ele. O esforço dos cegos para estudar, para ter acesso à
cultura e à vida social é muito grande e maior ainda para se equiparar aos
colegas que enxergam. Nossa preocupação é que, mesmo que o Felipe conclua uma
faculdade, como é que vai conseguir um bom emprego?"