10 de set. de 2014

Planetário convida pessoas com deficiência visual a explorar o céu tocando os astros.


Planetário convida pessoas com deficiência visual a explorar o céu tocando os astros.

by Ricardo Shimosakai
O planetário é similar a uma grande maquete, com um metro de diâmetro, e dividido em duas semiesferas, que representam os hemisférios Norte e Sul celestes.
O planetário é similar a uma grande maquete, com um metro de diâmetro, e dividido em duas semiesferas, que representam os hemisférios Norte e Sul celestes.
Uma simples visita a um planetário nos propõe uma viagem, antes de tudo, visual, pelas estrelas, com observações do céu em telescópios e simulações cinematográficas de constelações, cometas e outros corpos celestes – uma experiência impressionante, sem dúvida, mas que pouco pode ser vivenciada por pessoas com deficiência visual. Um grupo de astrônomos da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), porém, desenvolveu uma nova proposta de planetário desatrelada do sentido da visão, em que se usam as mãos para conhecer nossos céus.
O físico Claudio Luiz Carvalho, pesquisador da Unesp e coordenador do projeto, explica que a ideia é incluir os deficientes visuais na difusão de conhecimento sobre astronomia e explorar conceitos que podem ser absorvidos por meio do tato. “É difícil encontrar informação sobre astronomia em livros em braile, então o planetário pode ser uma ótima oportunidade para uma pessoa com deficiência visual conhecer mais o assunto.”
O planetário, montado em uma sala da Unesp, é similar a uma grande maquete, com um metro de diâmetro, e dividido em duas semiesferas, uma representando o hemisfério Norte celeste e a outra, o Sul. “As duas ‘abóbodas celestes’ estão fixadas à parede de modo que o visitante possa ficar debaixo de cada uma e tocá-las, sentindo o posicionamento de cada astro no céu”, explica Carvalho.
A proposta é que o visitante se posicione debaixo de cada semiesfera, fixada na parede, para conhecer, por meio do toque, a posição das estrelas e constelações no céu.A proposta é que o visitante se posicione debaixo de cada semiesfera, fixada na parede, para conhecer, por meio do toque, a posição das estrelas e constelações no céu.
Estrelas em alto relevo
A princípio, o planetário foi construído para representar o céu noturno: as estrelas e constelações são simbolizadas por miçangas de tamanhos diferentes, de acordo com o seu brilho. O visitante poderá identificar as constelações na noite estrelada: “O Cruzeiro do Sul, por exemplo, tem a forma de uma cruz; então disponibilizamos as miçangas de maneira que constituíssem uma cruz para que os visitantes pudessem senti-la”, esclarece Carvalho. “Além dos nomes e formas das constelações, também é possível identificar a localização das estrelas, a partir da inscrição dos pontos cardeais nas bordas das esferas, tudo em braile.”
O grupo ainda planeja a construção de semiesferas para representar o céu diurno, com a reprodução do movimento aparente do Sol e dos planetas. “Esse movimento será feito em alto relevo, assim como as representações do Sol e dos planetas, dando ao deficiente visual a oportunidade de entender esses fenômenos”, ressalta o físico.
Por enquanto, o novo planetário tátil está em fase de testes, para que os pesquisadores possam observar as reações de voluntários e a dificuldade de identificação dos corpos celestes e, assim, melhorar a experiência dos futuros visitantes. “Realizamos testes com dois cegos, que conseguiram identificar satisfatoriamente as estrelas e constelações e agradeceram pela experiência nova”, comemora Carvalho.
O projeto do planetário contou com a ajuda do educador Eder Pires Camargo, também da Unesp. Ele é deficiente visual e tem um longo histórico na luta pela inclusão escolar de alunos cegos.
A expectativa do grupo é que, no futuro, a instalação receba regularmente a visita de escolas da região. “Já estamos em contato com a Secretaria de Ensino para agendar a visita de escolas quando os testes forem concluídos, pois acreditamos que o planetário será uma experiência muito interessante tanto para alunos cegos quanto para os que não possuam deficiência visual”, destaca Carvalho.
Fonte: Ciência Hoje